O olhar artístico do arquiteto e urbanista pode transformar o modo de pensar as edificações e, principalmente, a conformação das cidades, pois o sensível abre espaço para percepções que primam pelas nuances e diferenças, favorecendo a observação de sutilezas e detalhes que podem até mesmo auxiliar a compreensão de si mesmo como habitantes das cidades.
Em uma viagem por várias cidades do interior paulista, formadas, por exemplo, à época do auge do café, podem ser observadas construções seculares de igrejas, mercados, fábricas e antigos trilhos de trem, com traços que carregam sua história, sendo notável como o arquiteto concebeu as formas e a disposição delas no mínimo espaço possível.
Ou ainda, na visita a um jardim imponente, com exuberantes formas das vegetações, delicadas, estonteantes e arranjadas de maneira coerente, é possível notar a sutileza do toque de quem criou o ambiente pensando no bem-estar daqueles que ali vivem.
Até mesmo ao fazer um passeio por alguma feira atual de móveis para ambientes interiores, dá para perceber a estética presente no traço dos objetos, aguçando a atenção de quem se aproxima deles.
Todas essas formas de observação do mundo se devem ao olhar artístico, que permite com que sejam destacadas outras histórias presentes nos objetos, nas formas e nas construções.
O traço do lápis ou nanquim de um observador dos espaços e da cidade pode aguçar o olhar para o detalhe, não necessariamente para se tornar um exímio desenhista, mas para compreender o que pode servir como aprendizado das formas dos objetos e construções.
Ao exercitar o desenho — ou mesmo por outras formas de se ativar esse olhar, como por meio da fotografia, do audiovisual ou das maquetes 3D —, o arquiteto e urbanista pode compreender o que compõe ou não com determinado espaço, o que pode auxiliar na melhoria da percepção sensorial de um ambiente.
Evidentemente, a praticidade ou a funcionalidade de uma determinada criação será valorizada devido à usabilidade. Mas, a partir do olhar delicado para uma determinada situação, serão ativadas também outras possibilidades que escapam aos olhares mais objetivos e calculistas.
Assim, é importante que o estudante e o profissional de arquitetura e urbanismo frequentem feiras e bienais artísticas, de design ou arquitetura, observando o que tem sido pensado para a qualidade sensorial de um ambiente.
Contudo, é preciso observar também o seu mundo ao redor, praticando as formas de representação desses locais, para que tanto a funcionalidade quanto a estética sejam aliadas ao traço e à intenção do arquiteto e urbanista.
Gabriel T. Ramos é arquiteto e urbanista (UFES) e mestre em Arquitetura e Urbanismo (UFBA). É doutorando em Arquitetura e Urbanismo (USP), na área temática Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo e linha de pesquisa Cidade, Espaço, Cultura, além de escritor e experimentador gráfico, com interesse em pesquisas transdisciplinares em cidade e diferentes metodologias de compreensão. Atualmente, é professor dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Civil na Faculdade Max Planck de Indaiatuba/SP, ministrando disciplinas de Desenho Técnico, Informática Aplicada à Arquitetura e Urbanismo, Urbanismo e Planejamento Urbano.
09/08/2017