Crianças com dislexia e em situação de risco são foco de pesquisa

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Graduado em biomedicina pela Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto
Alegre (FFFCMPA), Lucas Araújo de Azeredo é mestre em Ciências da Saúde pela Universidade
Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), doutor em Genética e Biologia
Molecular pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e finaliza seu pós-
doutorado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC – RS).

Em estudos mais recentes, Lucas estuda o nível de estresse em crianças expostas a situações
de risco e naquelas com transtorno de aprendizado, como dislexia e discalculia.

Fale um pouco sobre o seu projeto de pesquisa.

O Projeto Viva estuda o grau de estresse a que crianças em situação de risco estão expostas.
Vamos em escolas nas áreas de risco, aqui em Porto alegre, buscamos essas crianças, fazemos
uma avaliação de aspectos de psicologia e as trazemos para o Instituto do Cérebro do Rio
Grande do Sul (Inscer).

O segundo trabalho é o Projeto Acerta. Sabemos que crianças com transtorno de aprendizado,
como dislexia ou discalculia, têm dificuldade para aprender na escola. A gente chama essas
crianças para o Instituto do Cérebro e aplica um protocolo de estresse.

O que motivou as pesquisas?

Ainda não se sabe a causa da dislexia. Sabemos que é um transtorno de natureza multifatorial,
com aspectos ambientais e genéticos envolvidos. Conhecendo melhor o transtorno, podemos
encaminhar essas crianças para um apoio em termos de pedagogia, psicologia e áreas de
psicopedagogia para expô-las a situações que não as atrapalhem na escola. Além disso,
podemos estimular o conhecimento por parte de professores.

Sobre o Projeto Viva, vimos alguns dados da pesquisa e notamos que crianças expostas a
situações de vulnerabilidade e estresse apresentam um grau de resposta diferente do que as
que não são expostas a essas situações.

Quais resultados já obtiveram?

As crianças em situação de risco de violência e estresse apresentam uma secreção aumentada
de cortisol (hormônio do estresse). Extraímos fragmentos de três centímetros dos cabelos
dessas crianças e vimos que os níveis de cortisol capilar são bem superiores aos encontrados
em crianças que não sofrem exposição à violência. As crianças em situação de vulnerabilidade
têm uma resposta do próprio organismo de uma maneira mais exacerbada do que crianças
que não tem exposição a estresse e violência.

As crianças expostas a situações de risco têm um QI inferior, têm alterações no cérebro
também, algumas áreas cerebrais não estão ativas. Vimos que áreas que são responsáveis pelo
aspecto social da criança estão inibidas em relação a outras áreas que não têm uma resposta
ao estresse. Isso pode acarretar alterações no cérebro, alterações de medidas de cortisol no
cabelo e também aspectos de cognição e desenvolvimento da criança.

Qual a importância do seu estudo para a realidade brasileira?

Os professores ainda não sabem como funcionam essas crianças. Temos receio de dizer que
essas crianças são normais, mas normais em quais aspectos? Essas crianças têm dificuldades
de leitura, de matemática que têm que ser encaminhadas para centros especializados para
isso.

Ambas as pesquisas envolvem crianças, que são o futuro do país. Esperamos que essas
pesquisas que estamos fazendo – tanto com violência, de aspectos sociais, como o estresse de
crianças com dislexia – melhorem o entendimento do problema. Queremos que essas crianças
cresçam de maneira adequada. Sabemos que algumas políticas públicas no Brasil estão sendo
implementadas em relação a isso, mas acho importante que mais pesquisas possam ser
desenvolvidas para encontrarmos o caminho certo em relação a isso.

Fonte: Fundação Capes

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