Médico do futuro precisa saber integrar tecnologia ao atendimento humanizado, destacam especialistas
Pandemia do novo coronavírus e mudanças na atuação médica expõem urgência da inovação na formação superior de profissionais de saúde
A importância de formar profissionais de saúde capazes de lidar com quadros médicos inesperados sempre foi uma tônica do setor, mas ganhou caráter de urgência com os diferentes cenários impostos pela pandemia provocada pelo novo coronavírus. Nesse contexto, ficou ainda mais evidente a necessidade do preparo adequado de médicos e demais profissionais da área para lidar com avanços tecnológicos e científicos sem deixar de oferecer um atendimento humanizado a seus pacientes.
Em conversa ao vivo mediada pela gerente de publicações do Estadão Media Lab, Fernanda Sampaio, os professores Nuno Sousa, presidente da Faculdade de Medicina da Universidade do Minho (Portugal), Paulo Chapchap, diretor geral do Hospital Sírio-Libanês, e Ricardo Tannus, médico veterinário e reitor do Centro Universitário de Jaguariúna (UniFAJ), falaram sobre como os hospitais e as instituições de ensino de ponta vêm se preparando e formando médicos capazes de enfrentar esses desafios.
De acordo com Chapchap, novas formas de atendimento, como a telemedicina, já estavam surgindo entre os médicos e ganharam ainda mais importância com a pandemia. “Em países em desenvolvimento, como o Brasil, onde a inclusão e o acesso aos serviços de saúde são primordiais, alternativas como o atendimento a distância podem levar a avanços”.
Nesse sentido, ele ressaltou que os cursos superiores precisam oferecer a seus estudantes uma formação mais atenta tanto aos aspectos técnicos como humanos. “O médico do futuro terá que, cada vez mais, estar acostumado com a tecnologia. […] Por outro lado, sabemos que exercer o cuidado depende de uma relação de confiança entre o profissional da saúde e o paciente”.
Uma nova formação médica
Segundo Sousa, as faculdades de medicina que se destacam mundialmente estão atentas às competências exigidas pelo mercado e buscam estratégias para colocar o estudante no centro do aprendizado, incentivando a busca permanente de conhecimento. Nessas instituições, explica o professor, são utilizadas metodologias ativas e “o estudante deixa de ser transmissor para ser ele próprio um agente ativo, que participa da geração de conhecimento”, desenvolvendo uma capacidade de aprender em diferentes contextos e de discernir a qualidade da informação que aplica em sua prática.
O professor observou ainda que, no passado, a formação médica se dava de forma muito passiva e teórica. “Os alunos iam para a aula ver o professor falar. Ouviam com certo nível de interesse, mas não participavam ativamente”. Entretanto, com as metodologias ativa, as faculdades assumiram nova maneira de se colocar a serviço do estudante, como aconteceu com a Universidade do Minho, em Portugal, e o Centro Universitário de Jaguariúna (UniFAJ), localizado no interior paulista e pioneiro no Brasil ao ofertar um curso de medicina com ensino baseado nas mesmas práticas usadas em universidades como Harvard, MIT e Oxford.
Ainda de acordo com o especialista, como os desafios da medicina estão em constante mudança, as instituições precisam pensar, ainda em 2020, sobre como preparar profissionais que estarão em plena atuação daqui a vinte ou trinta anos. “A melhor forma de fazer é prepará-los para pensar e ser flexíveis perante os desafios, além de se adaptar às novas realidades”, complementou.
Intercâmbio e formação prática
Um dos caminhos trilhado pelos cursos de medicina para correr atrás desse avanço constante é a colaboração com instituições estrangeiras, para o intercâmbio de conhecimento e experiências. “São projetos que buscam no exterior a melhor forma de partilha e fazem com que seus alunos aprendam não só de forma ativa, mas também em contato com estudantes em outros pontos do globo”, disse Sousa.
O pressuposto de que o papel da faculdade na formação do profissional de saúde é propiciar as experiências práticas enquanto transforma a informação em conhecimento também foi defendido por Tannus. Segundo o reitor da UniFAJ, o conhecimento verdadeiro que a instituição de ensino irá passar a seus alunos precisa ser baseado de três pontos: “infraestrutura, excelentes profissionais e alunos motivados constantemente”.
A instituição vem ganhando notoriedade por ter colocado em prática esses preceitos desde a fundação de seu curso de medicina, que foi reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC) com nota máxima – feito alcançado por apenas 5% dos cursos da área no País.
Aulas e vestibulares adaptados à pandemia
Ainda de acordo com Tannus, foram esses princípios que permitiram a integração entre a tecnologia e o atendimento educacional durante a pandemia. Com incrementos em sua infraestrutura, a faculdade conseguiu oferecer aulas e laboratórios online para mais de 15 mil alunos, buscando minimizar os impactos do isolamento social na formação dos futuros profissionais.
A instituição também recebeu autorização para realizar o primeiro vestibular de medicina totalmente online do Brasil, que será feito no dia 13 de junho. A prova terá como critério a nota do estudante nas edições anteriores do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e uma prova de redação a ser realizada em ambiente virtual. “Estamos sempre preocupados em nos colocar no lugar do aluno e do professor, e fazer com que o ambiente aconteça da melhor forma para todos”, conclui o reitor.
Texto: Edu – Estadão